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Nada une mais as pessoas do que a morte de um familiar. Mas também, nada revisita pequenas mágoas, ressentimentos e conexões emocionais profundas como a perda de alguém.

O novo filme “His Three Daughters” explora tudo isso de forma aguda e observadora. Escrito e dirigido por Azazel Jacobs, o filme acompanha três irmãs, não exatamente afastadas, mas definitivamente não próximas, que se reúnem em um pequeno apartamento em Nova York enquanto o pai está em cuidados paliativos.
O filme é um poderoso destaque para as atuações de Carrie Coon, Elizabeth Olsen e Natasha Lyonne, que conseguem trazer reviravoltas inesperadas para suas personas já bem conhecidas. A intimidadora Katie de Coon, a retraída Christina de Olsen e a indiferente Rachel de Lyonne mostram novos lados — tanto para si mesmas quanto entre elas — até o final da história.

“Isso remete àquela coisa de ‘Clube dos Cinco’, que é: como você espera que nos definamos?”, diz Jacobs em uma entrevista em vídeo de seu apartamento em Nova York. “Eu sou a pessoa dominadora, sou a pessoa dispersa, sou a maconheira tranquila. E, com sorte, até o final, elas se libertam e revelam algo mais falho e humano do que isso.”

Tendo estreado no Festival Internacional de Cinema de Toronto no ano passado, o filme foi adquirido pela Netflix por cerca de 7 milhões de dólares. Após um lançamento limitado nos cinemas, incluindo algumas exibições em 35mm, o filme começa a ser transmitido na plataforma nesta sexta-feira.

Jacobs escreveu o roteiro com essas três atrizes em mente, sabendo que tinha uma conexão com cada uma e poderia levar o roteiro diretamente a elas. Ele já havia dirigido Olsen em episódios da série “Sorry for Your Loss”. Conheceu Coon depois de dirigir o marido dela, o ator e dramaturgo Tracy Letts, em seus filmes anteriores “The Lovers” e “French Exit”. Conheceu Lyonne ao ir com o ator Lucas Hedges à festa de 40 anos de Lyonne, uma exibição do filme “O Rei da Comédia”. Os dois se tornaram amigos no Instagram.

Embora Coon tenha conhecido Jacobs socialmente, ela ainda ficou surpresa ao receber um roteiro escrito para ela.

“Eu não sabia como ele me via como atriz, se ele sequer pensava em mim dessa maneira“, diz Coon, indicada recentemente ao Emmy por seu papel em “The Gilded Age”. “Então fiquei muito lisonjeada quando ele revelou haver escrito esse papel para mim. E, claro, Tracy disse: ‘Bem, você vai fazer’. E isso foi antes mesmo de eu ler o roteiro, porque ele ama tanto trabalhar com Aza. Ele sabia que eu me divertiria muito.”

Quando leu o roteiro, Coon gostou do que encontrou.

“Eu geralmente interpreto mulheres muito verbais e intensas”, diz Coon. “Então, de certa forma, estava dentro do que eu costumo fazer. Eu sou uma irmã mais velha, controladora, e acho que todos deveriam seguir meus conselhos. Nesse sentido, não está longe de quem eu sou.”

Para Olsen, o papel da tímida e reservada Christina estava mais distante de seus papéis recentes na série “Love & Death” ou no Universo Cinematográfico da Marvel.

“Eu não me vejo como tão doce e sensível, mas sou, de certa forma, e Aza sabe muito sobre mim pessoalmente e sobre minha vida cotidiana, coisas que eu não compartilho com muitas pessoas”, diz Olsen. “Então, encontrar algo menor dentro de mim e mais calmo, muito vulnerável, pareceu uma boa oportunidade, mesmo que não fosse necessariamente algo que eu estava louca para fazer. Tive essa chance de ir para um lugar mais suave do que normalmente sou atraída.”

Em um momento em que ela está muito ocupada como produtora, diretora, escritora e showrunner em projetos como “Russian Doll” e “Poker Face”, ainda há algo satisfatório para Lyonne em atuar no projeto de outra pessoa — apenas ser, em suas palavras, “como um Traveling Wilbury ou algo assim. Estou por aí sendo uma musicista de sessão e o trabalho é servir à ideia o melhor que puder. Adoro fazer parte de ver alguém realizar sua criação.”

Jacobs se destacou com seu terceiro longa-metragem, “Momma’s Man” de 2008, que contou com seus próprios pais, a artista Flo Jacobs e o cineasta de vanguarda Ken Jacobs, em seu loft no Tribeca, e há algo de círculo completo ao vê-lo retornar a uma história tão ligada à família, ao envelhecimento e à moradia em Nova York.

Para encontrar o apartamento específico que Jacobs tinha em mente, ele e sua co-produtora, a figurinista Diaz Jacobs (também esposa do diretor), distribuíram panfletos na rua. Ele ligou para pessoas com quem não falava há anos. Ele descobriu o apartamento que acabaram usando mediante alguém que conhecia desde a adolescência. Um apartamento no Lower East Side, que havia sido adquirido recentemente, o que significava que não estava totalmente mobiliado. O mais crucial, uma parede divisória que geralmente é derrubada pelos proprietários modernos ainda estava de pé.

“Era importante para mim não escrever sobre um loft de artista”, diz Jacobs. “Eu queria que essa família existisse fora da minha própria. Cresci frequentando muitos desses apartamentos. Eu os conhecia de festas do pijama ou visitando amigos. E era super importante, para mim, usar a estrutura real como uma limitação.”

Jacobs e o diretor de fotografia Sam Levy, cujos créditos incluem “Frances Ha”, tiram o máximo proveito do espaço limitado. Nos estágios iniciais do filme, as três irmãs são vistas apenas em tomadas individuais, separadas uma da outra. Gradualmente, duas delas podem aparecer juntas em uma cena, mas não é até bem adiante no filme que as três aparecem juntas na tela.

“A experiência do filme reflete o relacionamento das irmãs”, diz Coon. “A forma segue a função de uma maneira tão bela e rara. Você raramente vê esse nível de artesanato em uma indústria que está em um ritmo frenético para ganhar dinheiro.”

A produção usou outros apartamentos do prédio como áreas de espera entre as filmagens, com Coon e Olsen em um e Lyonne em outro, para aumentar o sentimento de isolamento de sua personagem. Mas, no final, as três acabaram passando tempo juntas de qualquer forma.

“Foi adorável estar sempre grudadas umas nas outras, rir e nos envolver nas vidas pessoais umas das outras, e depois sermos chamadas para o set, com o Aza tendo dificuldade em nos controlar porque estávamos tão obcecadas com o que estávamos fazendo juntas”, diz Olsen. “Sinto que em todas as fotos que o Aza tirou de nos fora das câmeras, nossos braços e pernas estão todos entrelaçados. Isso criou uma energia diferente, como se não houvesse para onde escapar. Você simplesmente tem que lidar com o que é real e o que está presente.”

“Nós passávamos o tempo todo correndo para cima e para baixo nas escadas do prédio”, lembrou Lyonne.

As três atrizes ficaram agradavelmente surpresas com a resposta do público ao filme. Um pequeno filme independente que chegou a um festival há um ano sem distribuição tem impressionado cada vez mais os espectadores nas exibições e agora começa a gerar conversas sobre premiações.

“Estou muito grata que as pessoas estão se conectando com ele”, diz Lyonne. “É absolutamente verdade que acho que nenhuma de nós esperava isso. É algo realmente especial para todas lembrarmos, que são sempre os inesperados. Como é bonito sermos impactadas por esse tipo de surpresa. É um lembrete de mantermos a mente aberta quando estamos aprovando projetos, lendo ou pensando que estamos fazendo escolhas certeiras e construindo essas carreiras imaginárias, tipo ‘Tem que vencer na vida’. Bem, spoiler: morremos no final.”

Enquanto “Momma’s Man” foi inspirado por Jacobs ao ver pessoas da sua idade começarem a ter filhos e “The Lovers” surgiu de uma onda de divórcios ao seu redor, “His Three Daughters” nasceu ao ver pessoas da sua idade perderem seus pais, além dos problemas de saúde que seus próprios pais enfrentavam.

O filme captura a agonia específica do fim da vida: simplesmente esperar. O período agonizante em que há pouco a ser feito e o menor detalhe — uma assinatura em um documento, o que comer no jantar — pode ganhar um significado enorme, simplesmente porque é uma tarefa que pode ser realizada.

“Essa experiência de espera foi o que realmente me fez sentar para escrever”, diz Jacobs. “O tempo se move de forma muito estranha. Como se, de repente, cada segundo contasse. E-mails não importam. Nada importa, além disso. Então você percebe que há uma mudança, de repente os e-mails voltam a importar e a vida lá fora volta a importar. Aquilo que você não queria que acontecesse, de repente você aceita que está acontecendo.”

“E parecia haver três atos nisso”, diz Jacobs. “Por isso foi tão importante para mim editar este filme. Sei que houve comparações com peças de teatro, mas a verdade é que não vemos o tempo passar da forma como uma peça mostraria. Eu poderia aproveitar o tempo para que algumas coisas se movessem rapidamente. Outras se moveriam devagar, o tempo poderia colapsar. Ele não se move como no tempo real. E é assim que a morte se sente para mim.”

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postado por admin no dia 19.09.2024
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