Nós temos 113867 imagens em 1534 álbuns e 201 categorias visualizadas 2765420 vezes.

Situado em um mundo futuro onde ninguém envelhece, não há animais e há pouquíssimas plantas, o drama distópico de ficção científica The Assessment, de Fleur Fortuné, acompanha os cientistas isolados Mia (Elizabeth Olsen) e Aaryan (Himesh Patel) enquanto enfrentam um árduo teste governamental de uma semana – e, por fim, completamente absurdo – conduzido pela imprevisível avaliadora Virginia (Alicia Vikander). O teste tem o objetivo de determinar se eles são um dos poucos casais aptos à parentalidade. Conforme a semana avança, Virginia leva o casal ao limite, forçando-os a confrontar suas próprias falhas, bem como a dura verdade sobre o mundo que ajudaram a criar.

Fortuné começou sua carreira como diretora de arte no estúdio de design gráfico H5, em Paris, antes de ganhar reconhecimento dirigindo videoclipes. Seu trabalho inovador e ousado no meio inclui vídeos para Skrillex, Pharrell Williams e uma extensa trilogia para o álbum Midnight City, do M83. Ela também dirigiu o videoclipe distópico de quatorze minutos de Birds in the Trap, de Travis Scott, além de campanhas publicitárias oníricas para marcas como Nike e Chloé.

Enquanto enfrentava dificuldades para conceber seu primeiro filho com o marido, Fortuné foi abordada pelo produtor Stephen Woolley com o roteiro de The Assessment, escrito por Dave Thomas e Nell Garfath-Cox (creditados como Mrs. & Mr. Thomas), como uma possível estreia em longas-metragens. Tendo passado por sua própria jornada médica absurda, repleta de consultas, exames invasivos e discussões difíceis, ela se identificou com o desejo de Mia e Aaryan de ter um filho, bem como com os obstáculos que precisam superar para isso nesse futuro distópico. Fortuné trouxe o roteirista John Donnelly para desenvolver o roteiro ao longo de cinco anos, aprofundando os personagens, inserindo mais humor e criando uma conexão emocional mais forte com o público.

Para a coluna Cineastas Mulheres em Foco deste mês, o RogerEbert.com conversou com Fortuné via Zoom sobre o processo de cinco anos para desenvolver o filme, a construção de um mundo sci-fi complexo que ainda ressoa emocionalmente com o público e como o filme desafia as pessoas a refletirem sobre suas próprias ações no presente e seu impacto no futuro.

O que no roteiro original a atraiu para essa história?

Acho que foi mais a ideia, a trama e os conceitos que me tocaram. Eu estava tentando ter filhos com meu marido havia um tempo, então passei por fertilização in vitro, reuniões de adoção e tudo mais. Eu me identifiquei completamente com o casal. Quando o produtor Stephen Woolley me enviou o roteiro, a versão inicial do universo do filme era muito diferente da atual. Não foi necessariamente o cenário que me atraiu, mas sim a ideia e o desenvolvimento dos personagens. Trabalhamos nisso por cinco anos. Primeiro desenvolvi os personagens, depois a história, e só então pude criar o universo que queria. A versão inicial do roteiro tinha telas no estilo Minority Report e muitos outros elementos de ficção científica que o público já está acostumado a ver. Eu queria algo que colocasse a história em primeiro plano, em vez de focar nos efeitos visuais.

Como foi equilibrar a construção do mundo distópico sem sobrecarregar a narrativa?

A ficção científica é complicada porque exige que você explique como o mundo funciona, coisa que não é necessária em histórias contemporâneas. Tivemos que explicar alguns aspectos, mas sem tornar isso excessivo. Por exemplo, com a droga Cinoxin, pensamos muito em como mostrar seu efeito sem ser didático demais. Como cineasta, há sempre o risco de explicar demais e fazer o público se sentir subestimado. Encontramos um equilíbrio delicado. Não queríamos um filme excessivamente complexo — a história precisava ser sobre esse casal e sua jornada emocional, e não sobre o estado do mundo em si. Em uma versão anterior do roteiro, Virginia se comunicava com um superior, mas eliminamos esses elementos para transformar o filme em uma peça intimista focada no embate psicológico entre os três personagens.

Como você decidiu ambientar a história nessa paisagem isolada e quase desértica?

O roteiro já mencionava uma casa na praia. Desde o início, eu sabia que não queria um cenário paradisíaco. Queria algo que parecesse um planeta diferente. Quando começamos a procurar locações, Tenerife nos atraiu por sua energia intensa — é uma ilha vulcânica, muito seca e ventosa, trazendo uma sensação constante de ameaça. Isso ajudou os atores, especialmente Elizabeth Olsen, que me disse o quanto a paisagem a influenciou enquanto treinava para as cenas de natação. Com o designer de produção, decidimos que não haveria árvores, nem madeira — Mia é a única que trabalha com plantas em um mundo onde elas não existem mais. A arquitetura da casa foi pensada a partir disso, usando concreto e vidro, materiais extraídos da própria terra, pois não há outros recursos disponíveis.

A estética da casa remete ao futurismo dos anos 1960, mas sobriamente. Isso foi intencional?

Criar um futuro inédito é difícil porque a tecnologia muda rapidamente. Sempre que vou a um aeroporto, vejo novas máquinas e robôs. Por isso, optei por excluir dispositivos e construir um futuro visualmente único, mas emocionalmente reconhecível. Conversando com o designer de produção, exploramos influências da Era Espacial e do Afro futurismo dos anos 1970, que parecia mais futurista do que muitas tendências atuais. Isso ajuda o público a sentir a familiaridade do ambiente sem os distrair da história.

Como você trabalhou com Alicia Vikander para desenvolver a fisicalidade da personagem Virginia?

Alicia estudou dança até os 18 ou 19 anos e tem um domínio incrível do próprio corpo. Ela estava empolgada em explorar a fisicalidade da personagem. Discutimos muito sobre como as crianças não têm noção de limites sociais e como isso poderia ser incorporado em Virginia. Observei minha filha de três anos e pensei: “E se um adulto se comportasse assim?” Esse aspecto infantil sem regras torna Virginia ainda mais inquietante.

Como escolheu Elizabeth Olsen e Himesh Patel para os papéis principais?

Pensei em Elizabeth Olsen desde o início. Ela tem uma conexão natural e elegante com emoções intensas, sem exageros. Como Virginia é uma personagem caótica, precisava que Mia fosse o oposto para equilibrar a narrativa. Para Aaryan, foi mais difícil encontrar o ator certo. Ele é um gênio, mas socialmente desconfortável. Himesh traz esse lado cômico e essa inadequação de forma muito autêntica, sem tornar o personagem antipático.

A cena do jantar é crucial para os temas do filme. Como foi desenvolvê-la?

Reescrevemos essa cena várias vezes. Ela precisava conter informações importantes sobre o mundo do filme, mas sem ser expositiva. Queríamos algo divertido, mas que terminasse intensamente. Minnie Driver foi brilhante — sua personagem é a “vilã” que arruína o jantar, mas também a única que diz a verdade. Isso cria uma sensação incômoda no público, pois nos força a confrontar nossas próprias escolhas.

Você tem esperança no futuro?

É difícil. A cada dia, novas guerras surgem, e a liberdade é retirada de muitas pessoas. Tento manter a esperança pelo bem da minha filha, mas é um desafio. Por isso acredito na importância de filmes com mensagens profundas. Muitas histórias hoje evitam temas difíceis porque o público não quer sentimentos ruins. Mas precisamos continuar refletindo e enfrentando a realidade.

Alguma cineasta a inspirou?

Jane Campion. Ela foi feminista antes do movimento ganhar força e sempre explorou emoções reais, em vez de somente “cumprir checklist” de representatividade. Filmes como O Piano são intensos e autênticos, algo que tento trazer para o meu trabalho.

Fonte.

 

postado por admin no dia 06.03.2025
você também pode gostar de ler:
deixe o seu comentário!