“Eu amo deixar as pessoas desconfortáveis com a arte” — Elizabeth Olsen para Dazed Digital.

post por: admin 12.09.2024

A atriz retorna às suas raízes no cinema independente em His Three Daughters, um novo drama sobre três irmãs briguentas que se reúnem para discutir sobre os arranjos do pai moribundo — aqui, ela discute o filme e sua carreira mais ampla com Nick Chen.

Elizabeth Olsen ajudou a salvar o mundo em seis filmes da Marvel. Agora, ela só quer incomodar as pessoas. Descubro isso quando a atriz americana de 35 anos revela que está trabalhando em um novo filme com Todd Solondz, um provocador cujas sensibilidades escandalizariam provavelmente os fãs fiéis da personagem de super-heroína de Olsen, Wanda Maximoff.

“Há muito em mim que adora deixar as pessoas desconfortáveis com a arte”, diz Olsen. “Gosto de me contorcer. Às vezes fico ofendida pelo que estou assistindo, mas fico feliz que alguém ultrapassou um limite. Isso é importante. Devemos continuar desafiando o que sabemos sobre a forma. Vivemos em um mundo onde temos tantas opiniões sobre tudo e todos, e é tudo preto no branco. O cinza e a nuance são muito mais interessantes. Deveríamos nos concentrar em criar esse espaço na arte, porque falta isso na sociedade e na cultura.”

Então, veremos Olsen alienando as pessoas daqui para frente? “Bem, His Three Daughters não aliena muita gente”, ela diz. “A única coisa que pode alienar as pessoas é a quantidade de diálogos que estamos forçando elas a ouvirem. Não são muitos os projetos que começam com dois monólogos seguidos!”

Escrito e dirigido por Azazel Jacobs, His Three Daughters é um drama tocante e loquaz sobre três irmãs que se reúnem em um apartamento apertado em Nova York para discutir os arranjos do pai moribundo. Estrelado por Olsen, Carrie Coon e Natasha Lyonne, essa comédia sombria sobre o luto também é uma vitrine emocionante para um trio de performances incríveis e variadas, todas filmadas em 35mm por Sam Levy, o diretor de fotografia de Frances Ha e Lady Bird.

His Three Daughters marca o retorno de Olsen às suas raízes no cinema independente, sendo seu primeiro filme fora da Marvel em seis anos. “Eu gosto frequentemente de sentir que estou entrando no corpo de outra pessoa”, Olsen me conta no The Soho Hotel, no início de setembro. “Esse filme não foi assim. Foi eu tentando descobrir o que Aza havia imaginado, porque ele me conhece tão bem.” Depois que os dois colaboraram na série de TV de 2018, Sorry for Your Loss, Jacobs escreveu o papel de Christina especialmente para Olsen. “Eu não me vejo como uma pessoa gentil e suave, mas tento me manter pequena tanto quanto posso, do jeito que Christina faz.”

Frequentemente realizando exercícios de respiração na sala de estar, Christina é uma devota de yoga cuja aparente tranquilidade externa é contraposta à personagem de Coon, Katie, uma controladora que perde a paciência com as maçãs em excesso deixadas na geladeira. Enquanto Christina e Katie têm maridos e filhos, Rachel, interpretada por Lyonne, é uma maconheira que vive de graça no apartamento do pai. Além disso, Rachel é uma meia-irmã, com uma mãe diferente, um detalhe que fica mais evidente sempre que Katie se refere a “meu pai” em vez de “nosso pai”.

“Quando li o roteiro, pensei: ‘Nossa, entendo melhor como interpretar Katie do que Christina’”, admite Olsen. “Talvez seja minha inclinação natural a interpretar personagens desagradáveis.” Ela ri. “Mas Aza me disse: ‘Eu te vejo como uma cuidadora em sua vida, e foi assim que imaginei Christina.’” Para finalizar a personagem, Olsen precisou de tempo de ensaio com suas co-estrelas, mesmo que o diálogo permanecesse o mesmo. “Rachel ignora todo mundo como um mecanismo de sobrevivência. Katie tenta controlar tudo agressivamente. Christina é uma bola de pinball, mediando entre as duas. Ela está meia que desmoronando.”

Falando longamente sobre a trajetória de Christina, Olsen descreve a gratidão de uma filmagem cronológica e de vivenciar novas emoções ao longo do caminho. “Fiquei muito surpresa”, ela diz. “Eu não sabia que terminaria daquele jeito.” Comento que Olsen fala sobre sua personagem como se ela fosse uma pessoa real. “Eu sempre sinto isso.” Ela pausa, parecendo confusa. “Não sei por que faço isso. Provavelmente é devido à escola. Gosto da ideia de que essa pessoa existe fora de mim, que posso analisar como uma terapeuta e defender como uma advogada.” Ela foi tão metódica assim em seu filme de 2011, Martha Marcy May Marlene? “Sinceramente, olho para trás e não sei como fiz qualquer coisa.”

Nascida três anos depois de suas irmãs Mary-Kate e Ashley Olsen, Elizabeth teve papéis menores como atriz na infância e depois estava “constantemente em conservatórios”. No mesmo mês em que fez um teste para Shakespeare no Parque, ela fez um teste para Martha Marcy May Marlene. “Eu entendia teatro”, diz Olsen. “Eu não entendia cinema independente. Eu não sabia que podia escolher trabalhos que estivessem alinhados com o gosto. Eu estava apenas tão animada para trabalhar. E como nem sempre se alinhava com o gosto, perdi um pouco da disciplina e devoção ao trabalho ao longo do caminho, que pude reinvestir devido a Sorry for Your Loss. Embora ninguém tenha realmente assistido, foi incrível produzir e fazer parte daquilo. De repente, coloquei todas as horas que coloquei na faculdade. Foi como se eu reaprendesse e abraçasse o ofício.”

Olsen, claro, dedicou uma grande parte de sua carreira à Marvel, além de receber uma indicação ao Emmy pela minissérie WandaVision. Em entrevistas para Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, ela disse aos jornalistas que não havia assistido ao filme. Será que ela já assistiu agora? “Ainda não assisti. Vi algumas cenas. Fiquei desconfortável assistindo.” Ela explica que com filmes da Marvel, assiste na estreia ou não assiste. “Se vou assistir a algo, preciso estar sozinha, e não gosto muito de assistir coisas em casa. Gosto de estar no cinema.”

Se não fosse pela Marvel, a carreira de Olsen poderia ter sido diferente. Em 2015, ela foi escalada para The Lobster de Yorgos Lanthimos, mas teve que desistir devido a Vingadores: Era de Ultron. “Isso foi horrível”, ela diz. “Esse foi um dos meus roteiros favoritos que já li.” Agora que Olsen deixou aparentemente a Marvel para trás, ela está em busca de projetos mais idiossincráticos. “Acho que Todd Solondz aliena muitas pessoas com seus filmes”, diz Olsen. “Ele cria filmes que dividem as pessoas. É isso que eu amo nele.”

Como seu novo filme se chama His Three Daughters, termino a entrevista perguntando a Olsen sobre crescer com duas irmãs celebridades e se essa introdução à fama — estar ao redor dela, à margem — aumentou sua consciência de como as pessoas são percebidas, tornando-a uma atriz melhor décadas depois. “Isso faz parte”, diz Olsen. “Há muitos fatores que contribuíram para eu amar analisar as pessoas. Pode ser por ser a mais nova de quatro durante os primeiros dez anos da minha vida. Pode ser essa constante perspectiva de estar de fora olhando para dentro. Isso definitivamente influenciou como navego na minha carreira. Quero a ilusão de ser apenas uma atriz, ou essa outra coisa que se torna muito maior do que o próprio trabalho, que não me interessa? É útil para financiar um filme de Todd Solondz, mas todo o sistema tem que funcionar.”

Ela acrescenta: “Eu constantemente quero entender por que as pessoas pensam da maneira que pensam e por que têm as ideias que têm. Isso, para mim, é fascinante sem fim, na história e atualmente. Não sei como explorar isso além desta forma. Ou sendo uma terapeuta, o que eu não tenho interesse em ser.” Se ela alienar demais as pessoas com seus próximos filmes, poderia se tornar terapeuta em vez disso? “Não, não do jeito que vou fazer isso!”

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